segunda-feira, 14 de março de 2011

Dona Felicidade

  Por Miguel Lopes


Lapa, distrito dos contrastes, do burburinho representado pela zona do mercado municipal às ilhas de tranqüilidade formadas pelas áreas residenciais. É nesse contexto que se misturam o velho e o novo, setores produtivos mesclados com o comércio e o lazer que fica localizado na Vila Romana, bairro de vocação industrial, pelo menos nos meados do século XX e que, atualmente, vem passando pelo rolo compressor da construção civil em claro processo de transformação patrocinado pelos ventos da modernidade, singrados por outro tipo de indústria: a Imobiliária.
Para nosso regozijo, porém, um oásis especialmente voltado ao relax, ocupando um antigo galpão industrial, muito bem adaptado, está o bar e restaurante Dona Felicidade.
Sob a supervisão direta da proprietária que empresta o seu nome ao bar, com o auxílio competente de seus dois filhos, Toninho (atencioso, gentil e, ao mesmo tempo, firme na administração) e Sérgio (a simpatia em pessoa, faz o social como ninguém, sem perder de vista a qualidade dos serviços) e tocado por uma equipe de profissionais fiéis e experientes, transforma esse bar num dos poucos lugares que nos faz sentirmos em casa.
Um lugar especial, pois, com o seu pé direito privilegiadamente alto, permite uma boa ventilação do salão, promovendo um convívio pacífico entre os adeptos do tabaco com os que preferem manter o paladar isento de sabores que não sejam os de sua bebida preferida, acompanhada de um bom petisco.
Assim é o Dona Felicidade, com seu longo balcão emoldurando o bem servido acervo de destilados, vermutes e licores, sem falar no estoque de cervejas, cujo resfriamento tem uma atenção especial, herança trazida de outros carnavais, chegam à mesa sempre no ponto correto. Outro capítulo de grande envergadura são as opções de whiskies canadenses, irlandeses, americanos e, naturalmente, escoceses de vários graus de envelhecimento, incluindo, para os mais exigentes, o excelente Blue Label ou o místico Royal Salute. Ainda no universo dos destilados, peça a carta de cachaças, você se surpreenderá.
Freqüentado por casais e grupos de amigos na faixa etária consciente do verdadeiro valor dos momentos destinados a uma boa conversa, possuem boa distribuição, permitindo o conforto necessário para, diante de uma oferta bem sortida de petiscos típicos de boteco, quesito da maior importância, a indispensável prática universal da verdadeira botecagem, claro, em boa companhia.

 Já que tocamos no assunto que mexe com o estômago, entre a variada seleção, comece com um torresminho ou um bolinho de bacalhau, ambos sequinhos e crocantes, itens fundamentais para realçar a sede. Na seqüência, a alheira da casa é a melhor pedida: agora, se a vontade passar por algo mais exótico, peça a tradicional sardinha portuguesa na brasa ou escolha a rã empanada, levemente temperada, passando por ovos e recebendo uma fina camada de farinha, frita na hora, chegando à mesa quentinha, macia e de sabor delicado, para paladares conhecedores de finas iguarias. Se, depois de tudo isso, bater aquela fome, sem problemas, não precisa mudar de endereço, chame o garçom e pergunte sobre o carré de cordeiro: é de dar água na boca.

Além do alto astral que domina a atmosfera, não poderia deixar de mencionar um pequeno detalhe, mas de grande significado, que colabora de modo irrefutável na ampliação desse momento mágico do dia, principalmente para os que não conseguem se desligar, totalmente, do fator tempo. Estou falando de um relógio, isso mesmo um relógio, belíssimo por sinal, instalado na saída do bar, que marca, invariavelmente, 21h10min, revestido do poder de tranqüilizar quem o consulte, mesmo que, na verdade, a noite já tenha ultrapassado as 2h da madrugada, se é que me entendem. Ciao!


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